Suas Finanças

Comprar imóvel com o dinheiro das aplicações ou fazer financiamento?

Olá, Investidor Inteligente!

Volta e meia me indagam com uma pergunta do tipo:

“Denys, estou pensando em comprar um imóvel. O que vale mais à pena, comprar imóvel com o dinheiro das aplicações ou fazer financiamento?”

Sempre fico feliz em esclarecer, porque essa dúvida não é nova, é recorrente e aflige até os mais experientes.

A resposta inicialmente reside na “simples” comparação entre o custo de um financiamento e a rentabilidade de uma carteira de investimentos.

Eu coloquei o “simples” entre aspas, porque essa comparação pode não ser tão fácil. São vários os detalhes a serem considerados que veremos logo abaixo.

Mas, a comparação não encerra totalmente a análise. Existem algumas informações a mais que você deve saber e avaliar, antes de tomar uma decisão.  Vamos lá!

Quanto custa um financiamento bancário?

O investidor pagará uma taxa de juros para o banco que o financia. O funding (recurso) para os financiamentos imobiliários no Brasil advém principalmente da caderneta de poupança. Como você já deve saber, o rendimento da poupança é um dos menores do sistema financeiro e isso possibilita a cobrança de juros menores do que a própria taxa Selic, em alguns períodos.

A rentabilidade da poupança é determinada da seguinte forma:

  • Se a Selic estiver acima de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será de 0,5% ao mês mais a variação da TR;
  • Se a Selic estiver igual a ou abaixo de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança será equivalente a 70% da Selic mais a variação da TR.

Hoje, estamos com a Selic em 13,25% a.a. – vale a primeira regra citada.

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Então, a rentabilidade será de 0,5% ao mês, ou cerca de 6,16% ao ano, mais a TR (Taxa Referencial). A TR nos últimos 12 meses (de ago/22 a jul/23) deu 2,11%. Então, a poupança rendeu nesse período  aproximadamente 8,4%.

Esse é o primeiro custo do financiamento; é como se fosse o piso. A partir dali o banco aplica seus spreads para obter lucro de intermediação.

Comprar imóvel com o dinheiro das aplicações ou fazer financiamento: primeiro aprendizado

O custo final do financiamento pode ser menor do que a SELIC, porque o recurso vem da caderneta de poupança – que invariavelmente renderá menos do que essa taxa de referência.

Os ciclos de alta ou de queda da Selic influenciam no custo de financiamento? Sim, pois a Selic influencia no rendimento da caderneta de poupança. Mas, a relação não é direta e proporcional: (1) primeiro, porque quando a Selic ultrapassa 8,5% a.a. o rendimento da poupança fica limitado ao 0,5% ao mês + TR; (2) segundo, porque outros fatores influenciam no custo dos financiamentos bancários, como por exemplo, o sistema ao qual você está enquadrado (existe o SFH – Sistema Financeiro da Habitação – e o SFI – Sistema Financeiro Imobiliário).

Veja abaixo, a variação da Selic, e das taxas de financiamento imobiliário. Lembrando que existem várias modalidades de crédito, que variam de acordo com as características do tipo de imóvel comprado, valor, perfil do comprador etc.

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Fonte: Banco Central do Brasil

Para nós, investidores, a modalidade mais utilizada é o SFH, portanto, vamos considerar somente ela nos cálculos. Observe que existem momentos que o custo do crédito se encontra abaixo e acima da Selic. Hoje, a Selic está mais alta do que o custo do crédito imobiliário (exceto para home equity).

Comprar imóvel com o dinheiro das aplicações ou fazer financiamento: segundo aprendizado

Os momentos da Selic e das taxas de financiamento criam oportunidades para o investidor mais atento.

Devemos nos atentar que as taxas acima são dos juros nominais (funding + spread); além desse custo (que é o principal deles) há a correção monetária – na maioria dos contratos é a TR – e outros custos extras, como por exemplo:

  • Taxas de análise de crédito: cobrança feita para cobrir os custos da avaliação do perfil de crédito do interessado no crédito imobiliário;
  • Abertura de cadastro: apesar de não ser obrigatória, a Taxa de Abertura de Cadastro (TAC) é cobrada por muitas instituições;
  • Taxas administrativas: tarifas que variam de banco para banco e são cobradas para questões como manutenção de cadastro, por exemplo;
  • Seguros: muitas instituições financeiras exigem a inclusão de seguros que garantam o pagamento das prestações do financiamento, no caso de morte ou perda de emprego por parte da pessoa que tomou o crédito;
  • Imposto sobre Operação Financeira (IOF): tributação obrigatória, que incide em diversas operações financeiras e que precisa ser incluída no valor total do crédito imobiliário.

O Banco Central tem uma resolução que obriga a instituição financeira a expor, de forma clara no contrato de empréstimo, todas as informações e valores do Custo Efetivo Total.

Dessa forma, quem faz a solicitação de um financiamento imobiliário pode ter uma noção exata de quanto gastará com a tomada de crédito.

Vamos fazer uma comparação do passado; e uma estimativa para o futuro.

Em resumo, o custo do financiamento de 2014 a 2022 foi de:

Taxa de juros nominal (que depende da linha de crédito) + TR (na maior parte dos casos) + Custos extras

Analisando os dados do Banco Central, podemos constatar que:

Média de 2014 a 2022 do SFH: 9,85% a.a.

Quanto à TR, de 2014 para cá ela variou entre 0 e 2% no ano. Na média, foi de 0,90%.

E quanto aos custos extras, sendo que um dos principais é o seguro habitacional, podemos considerar mais 1% a.a.

Sendo assim, o custo final médio para se tomar um financiamento imobiliário entre 2014 e 2022 (grosso modo) foi de: 9,85 + 0,90 + 1 = 11,75% ao ano.

Agora, vamos fazer uma projeção para o futuro.

Se alguém contratar um financiamento HOJE, terá o seguinte custo:

Taxa de juros nominal (que depende da linha de crédito) + TR (na maior parte dos casos) + Custos extras

A última atualização que consta no site do Banco Central, traz as seguintes taxas de juros nominais:

SFH: 11% a.a.

Quanto à TR, podemos utilizar a média citada anteriormente, de 0,90% ao ano. E quanto aos custos extras, podemos considerar os mesmos 1% a.a.

Sendo assim, HOJE o custo final e total para se tomar um financiamento imobiliário pode ser estimado (grosso modo) em: 11 + 0,90 + 1 = 12,90% ao ano.

Então, esse é o alvo a ser obtido (no mínimo) com a carteira de investimentos, para que seja vantajosa a opção descrita até aqui.

Quanto rende uma carteira de investimentos?

­­Podemos separar essa pergunta em: quanto rendeu, e quanto renderá uma carteira de investimentos.

Quanto rendeu?

Para responder essa questão, vamos analisar 3 carteiras genéricas de investimento:

Fonte: EQI Investimentos

OBS: Carteira Conservadora composta por 50% de CDI, 25% de IMA-B5 e 25% de IFR-M. Carteira Moderada composta por 20% de CDI, 20% de IMA-B5, 20% de IFR-M, 15% de IHFA, 5% de IBOV, 5% de IFIX, 5% de SMLL, 5% de S&P 500 (em reais) e 5% de ouro (em reais). Carteira Sofisticada composta por 15% de CDI, 20% de IMA-B5, 15% de IFR-M, 10% de IHFA, 8,3% de IBOV, 8,3% de IFIX, 8,3% de SMLL, 7,5% de S&P 500 (em reais) e 7,5% de ouro (em reais).

De 2014 a 2022, o retorno anual do CDI foi de 8,81%, do IBOVESPA foi de 8,77%, da Carteira Conservadora foi de 9,47%; na Carteira Moderada foi de 10,56%; e na carteira Sofisticada foi de 11%.

Podemos notar que os rendimentos das carteiras foram acima do CDI, mas abaixo do custo do financiamento imobiliário (entre 2014 e 2022), que foi de 11,75% a.a.

Mas, estamos em um pico da taxa de juros; os ativos estão mais baratos. Montar uma carteira agora, possivelmente trará retornos maiores do que as médias do passado. Além disso, estaríamos contratando um financiamento em um momento que o custo de funding se encontra abaixo da Selic.

Vamos calcular a projeção de rentabilidade futura?

Estimar o rendimento da renda variável (IBOV, IFIX, SMLL, S&P 500 e ouro) é praticamente um “tiro no escuro”. Não vou me arriscar.

Por isso, vamos nos ater somente à renda fixa.

Uma carteira conservadora, por exemplo, tem 50% de pós-fixado, 25% de ipca+ e 25% de prefixados.

Ela pode ser montada com os papéis de altíssima segurança, como os ativos bancários (CDBs, LCIs, LCAs, etc). Observe o quadro abaixo com as melhores taxas da EQI hoje:

Fonte: EQI Investimentos

Quais ativos escolher na comparação?

O foco é longo prazo, certo?

Então, peguemos os ativos longos e rentáveis.

Podemos pegar um CDB do banco Neon de 123% do CDI (6 anos); um CDB do banco Master de 12,94% a.a. (6 anos) e um CDB do banco Agibank de 7,28% + IPCA (4 anos). Projetando:

Dados de 20/07/2023

DI1F29: 10,69% a.a.

123% do CDI => 123% de 10,69% = 13,15% a.a.

Inflação Implícita 2029: 5,17% a.a.

7,28% + IPCA = 1,0728 x 1,0517 => 1,1282 = 12,82% a.a.

E, o prefixado já sabemos que renderá 12,94% a.a.

Essa, seria uma carteira com rendimento estimado em:

(13,50 x 0,50) + (12,82 x 0,25) + (12,94 x 0,25) = 13,19% a.a.

Abaixo do custo do financiamento, que hoje seria de 13,55% a.a.

Isso que não estamos contando o imposto de renda, que a carteira de investimentos teria que pagar, nesse caso.

Bom, mas há alternativa de tornar a carteira de investimentos viável frente ao investimento?

Há sim; mas necessariamente teremos que comprar ativos mais sofisticados (e de maior risco).

A carteira de renda fixa poderia ser montada, nas mesmas proporções de classe que a carteira anterior; mas com ativos estruturados, com rendimentos maiores. Por exemplo:

CRI de CDI + 4% a.a.

CRA de IPCA+ 10% a.a.

Fundo cetipado (isento) de 13,5% a.a.

Nesse caso, todos são isentos de IR para pessoa física.

A projeção de retorno seria:

CDI + 4% => 1,1069 x 1,04 = 1,1511 => 15,11% a.a.

CRA de IPCA + 10% a.a. => 1,0517 x 1,10 = 1,1568 = 15,68% a.a.

E o prefixado já sabemos que vai render 13,5% a.a.

Essa carteira, então, teria o rendimento projetado de:

(0,50 x 15,11) + (0,25 x 15,68) + (0,25 x 13,50) = 14,85% a.a. (isento de IR).

Nesse caso, o custo do financiamento seria MENOR do que o rendimento da carteira.

14,85% dos investimentos contra 13,55% do custo do crédito.

Então, valeria a pena manter os investimentos na corretora, e fazer o financiamento.

Mas, tem alguns detalhes que devem ser mencionados:

1º detalhe importante:

Desde 2002 existe a possibilidade de portabilidade do financiamento bancário entre bancos. Então, quando os juros dos financiamentos baixarem para 8% a.a., por exemplo, teremos a oportunidade de travar a taxa de juros nominal em um patamar bem mais baixo.

2º detalhe importante:

Em contrapartida, temos que ter em mente que os investimentos possuem vencimento e que ao vencerem precisarão ser renovados. E, as taxas de rentabilidade da renovação estarão sujeitas à rentabilidade da época. Por isso, é interessante comprar títulos longos e, ao longo do tempo, aproveitar as boas oportunidades de realocação, sempre no sentido de alongar o prazo, com taxas altas de rentabilidade (acima do custo do financiamento).

3º detalhe importante:

Ao montar uma carteira com renda variável é possível que os rendimentos sejam mais altos (com maiores oscilações). O resultado pode ser expressivamente maior do que com a renda fixa, mas com maior risco.

4º detalhe importante:

No geral, me parece que a diferença entre o custo do financiamento e o retorno de uma carteira de investimentos não é alto. Olhando o quesito RENTABILIDADE, não há grande vantagem para nenhum dos dois lados. Mas, pensando-se em LIQUIDEZ, aí a balança pende para o lado de se fazer o financiamento. Ao manter uma carteira de investimentos, você terá bem mais liquidez do que ter um imóvel quitado.

Conclusão: comprar imóvel com o dinheiro das aplicações ou fazer financiamento?

Na compra de um imóvel, o que vale mais à pena: usar o dinheiro das aplicações ou financiar o imóvel no banco?

De 2014 a 2022 Projeção futuro
Custo médio total do financiamento 11,75% a.a. 12,90% a.a.
Rentabilidade carteira conservadora 9,47%* 13,19%*
Rentabilidade carteira mais arrojada 11%* 14,85%**

*rentabilidade bruta de IR

**rentabilidade isenta de IR, porque os papéis utilizados são isentos.

Respost à pergunta se o melhor é comprar imóvel com o dinheiro das aplicações ou fazer financiamento:

  • Se você possui um perfil de investidor mais arrojado, vale a pena manter o dinheiro das aplicações e financiar o imóvel no banco. Você terá um retorno maior (com papéis mais sofisticados em carteira) e manterá maior liquidez.
  • Se você possui um perfil de investidor mais conservador, vale a pena usar o dinheiro das aplicações e comprar o imóvel, sem financiamento. Você terá um custo menor e maior tranquilidade.

Até a próxima!

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