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BTG Together: arcabouço fiscal, inflação e juros, o que os gestores esperam do governo Lula

Arcabouço fiscal, metas de inflação e trajetória do juros foram os principais assuntos discutidos no painel “Perspectivas para investimentos: um panorama do cenário econômico atual”, durante o BTG Together.

A oportunidade reuniu Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual; Rodrigo Azevedo, sócio, co-CIO e gestor Ibiuna Investimentos; e Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset.

O evento, promovido pelo BTG Pactual, foi dedicado a empreendedores e investidores e abordou temas como empreendedorismo, desenvolvimento pessoal, liderança, inovação, finanças e investimentos.

Novo arcabouço fiscal

Na semana em que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva completou 100 dias, ainda segue forte a discussão sobre o novo arcabouço fiscal, apresentado em 30 de março pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O principal item do projeto, ainda em fase preliminar, é a garantia de que as despesas do governo só poderão crescer de um ano para outro dentro de um limite de 70% do crescimento da receita. As promessas do Ministério da Fazenda são de zerar o déficit primário já em 2024 e ter superávit crescente a partir de 2025.

Na ocasião do anúncio, o mercado reagiu de forma cautelosa, à espera de números e regras mais detalhadas.

Para o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, o arcabouço fiscal é o tema mais importante do momento no âmbito econômico.

Sobre a dívida pública, Mansueto avalia que ela se encontra hoje no mesmo patamar de 2017, ou 73% do PIB. No entanto, de acordo com ele, o cenário atual é de expansão de gastos e déficit público. “O que pode mudar esse cenário é o plano fiscal ratificar a zeragem do déficit em 2024, fazer superávit em 0,5%, em 2025, e 1% em 2026”, sinaliza.

Novo plano fiscal acalma o mercado?

Para Rodrigo Azevedo, gestor da Ibiuna Investimentos, é importante pensar no novo arcabouço no curto e longo prazo. “Hoje estamos melhor, porque antes não sabíamos o que iria entrar no lugar do teto de gastos. A divulgação da proposta colocou uma estrutura na discussão”, avalia.

Contudo, para o gestor existe uma segunda questão importante na parametrização da proposta no que diz respeito à trajetória da carga tributária. “É preciso avaliar o impacto mais duradouro. Ainda não está claro como os resultados serão atingidos”, pondera.

De acordo com o ministro Haddad, o estudo do novo arcabouço tem focado na busca de ampliação das receitas, com a promessa de aumentar a arrecadação em mais de R$ 100 bilhões por ano a partir de medidas como a tributação de apostas eletrônicas online, fiscalização maior sobre as empresas de comércio eletrônico e o pagamento da CSLL (Contribuição Sobre o Lucro Líquido) pelas empresas.

Na visão de Mansueto, para cumprir o que está sendo proposto, o próximo governo também deverá se comprometer com o ajuste. “O que o governo mostrou foi um ajuste de R$ 200 bilhões, para uma dívida na casa de R$ 300 bilhões, os quais cerca de R$ 150 bi vem de aumento de arrecadação. Mas quando se faz isso, as empresas vão pagar mais imposto. Não se sabe como será a receptividade no Congresso”, ressalta.

A promessa é que o texto final a ser discutido será apresentado nos próximos dias. Ao contrário da reforma tributária, que precisa de maioria constitucional (308 votos na Câmara, 54 no Senado), o novo arcabouço fiscal só precisa de maioria simples (257 deputados e 41 senadores).

Controle da inflação

Para o economista-chefe do BTG Pactual, os dados de inflação de curto prazo mostraram uma surpresa positiva. O IPCA de março ficou em 0,71%, abaixo do consenso projetado de 0,77%, e com desaceleração em relação à alta de 0,84%, apresentada em fevereiro.

No entanto, Mansueto avalia que as projeções de inflação para os próximos anos seguem aumentando. “Nesse contexto, é difícil para o Banco Central cortar juros”.

O último boletim Focus divulgado na segunda-feira (10.04) elevou as projeções para a inflação, e para o Produto Interno Bruto (PIB). Já as estimativas para dólar e Selic foram mantidas.

Para Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset, até o início de 2023, havia muitos ruídos na comunicação do novo governo, o que dificultou a criação de condições ideais para se falar em redução de juros. “Esse ambiente melhorou, além do plano fiscal já ter sido apresentado. Agora, é possível projetar expectativas para início de queda em agosto ou setembro”, reitera.

Rodrigo Azevedo, avalia ainda que a hipótese de redução de juros no primeiro semestre de 2023 é bastante improvável. “O mandato do Banco Central é entregar a inflação na meta e faz três anos que a inflação está muito acima. Do ponto de vista do BC é mais importante olhar as projeções e não os resultados até aqui. Sob essa ótica, o BC não está com pressa”, reforça.

Brasil no cenário internacional

Quanto à posição do Brasil no mercado internacional, os gestores concordam que o caminho deve ser positivo para o país.

“O cenário externo é incerto, com receios sobre uma eventual crise bancária nos EUA e recessão. Além disso, o cenário da Europa também está indefinido. Quanto à China, a expectativa é crescimento de 5% este ano”, avalia Mansueto.

A China é um parceiro estratégico para o Brasil. A expectativa da viagem do presidente Lula a Pequim, realizada na última semana, conta com a possibilidade de o Brasil aderir ao plano “Belt & Road”, do governo chinês.

Trata-se de um acordo para investimentos globais na área de infraestrutura, no qual os chineses tentam incluir o Brasil no plano há uma década.

Fora da macroeconomia, a China é também uma parceira para empresas brasileiras, como a Vale (VALE3), que tem no país asiático um de seus principais clientes na venda de minério de ferro; além de companhias do setor de alimentação, notadamente ao frigoríficos como JBS (JBSS3), Minerva (BEEF3) e BRF (BRFS3), que vendem carne para o país.

No ano passado, foram vendidas 2,2 milhões de toneladas de carne para a China, movimentando US$ 10,4 bilhões em exportação, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.

E não é apenas no setor das commodities. A China também ganhou relevância para o Brasil do lado energético. No começo de março, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, recebeu representantes do grupo chinês State Grid, considerado o maior player mundial no setor de transmissão de energia elétrica, para discutir sobre o plano de investimentos da empresa no Brasil.

“O momento internacional para o Brasil nos próximos dois anos pode ser positivo. No entanto, é preciso reconhecer que o cenário mundial de agora é diferente. O crédito está apertado e os juros estão lá em cima. Será preciso que o governo mantenha uma sinalização correta em suas ações”, reforça Rodrigo Azevedo.

Para o CEO da Bradesco Asset, apesar dos ruídos nos primeiros meses de governo, o Brasil está em uma posição privilegiada frente a seus pares. “O vento tende a ser bom, mas é preciso resolver o problema interno, avançando com as reformas estruturais. O mapa do que precisa ser feito é politicamente difícil”, finaliza Bruno Funchal.

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