Investimentos

Ações e FIIs com valuations (bem) descontados: será mais um voo da galinha?

Olá, Investidor Inteligente!

Os juros altos influenciam negativamente no preço dos ativos de renda variável de três formas, principalmente:

  1. ao tornar os fluxos futuros de renda menos atrativos frente à renda fixa;
  2. ao diminuir as margens das empresas, elevando o custo de capital;
  3. ao reduzir o volume faturado das empresas/negócios/empreendimentos, em função da redução da demanda dos consumidores.

E tudo isso pode se traduzir na queda do preço das Ações, dos Fundos Imobiliários, etc.

O Brasil, como você sabe, viveu tudo isso… Todos esses três fatores agiram e afetaram negativamente os ativos de renda variável, mesmo que em ritmos diferentes.

Valuations bem descontados

Neste último ciclo econômico, a taxa Selic começou a subir em março de 2021 e até agora não iniciou a sua trajetória de queda.

Sim, o mercado está antecipando esse fato ao provocar uma queda relevante dos juros futuros nas últimas semanas. Mas ainda temos bastante “chão pela frente”.

As altas recentes da nossa bolsa podem estar só no início.

Os valuations (valor intrínseco dos ativos) ainda estão bem descontados.

Observe o gráfico abaixo:

gráfico comparando ifix, ibov, cdi, dólar e ima-b

Inicialmente, vemos um gráfico dos rendimentos dos últimos 2 anos do IFIX, IBOV, CDI, Dólar e IMA-B.

Todas as classes renderam menos do que o CDI.

E, tecnicamente, esse fato se constitui em uma anomalia temporária, tendo em vista que o CDI é também a classe de menor risco.

É muito provável que, em algum momento, as classes que outrora renderam abaixo do CDI venham buscar a diferença, fazendo jus ao risco maior que incorrem.

gráfico com comparação NTN-B e DY

Acima, você pode notar a diferença entre os dividends yields do IFIX comparados aos rendimentos da NTN-B 2035.

Essa diferença é chamada de spread!

Veja que, nos últimos 11 anos, o spread atual só foi comparável à época da crise do governo Dilma, quando o IFIX estava rendendo os quase 6% acima da NTN-B que estão rendendo hoje.

Olhando essa métrica, podemos afirmar que a oportunidade que temos hoje no mercado de Fundos Imobiliários é tão grande quanto a da época da nossa última grande crise, em 2015, pouco antes do impeachment.

gráfico com earnings yields

Agora, temos essa mesma informação (o spread) da nossa bolsa (IBOV), sem contar os dados de Petrobras e Vale, que distorcem a análise.

Podemos ver que a diferença entre o rendimento de uma ação (L/P menos taxa de juros de 10 anos) e a taxa de juros de 10 anos está no seu maior patamar desde a crise do Covid, em 2020.

Não sei se você se recorda, mas quem comprou ações no “fundo do poço” em 2020 dobrou o capital em poucos meses.

O fato é que a renda variável (IFIX, IBOV ou outros) ainda está bastante descontada… E o gatilho para a sua valorização pode ter sido acionado com a queda dos juros.

No curto prazo, a tendência é ligeiramente positiva para a economia, com a inflexão dos juros e um novo ciclo econômico.

Tente selecionar 3 ou 4 publicações de Researchs (casas de análise), cartas de Assets ou relatórios de estratégia das instituições financeiras.

Provavelmente, todas elas estarão dando um tom otimista para o momento atual.

Refaça a análise com publicações de 90 ou 120 dias atrás. Provavelmente, todas estavam mais pessimistas…

O que mudou nesses poucos dias? Nada? Tudo?

A verdade é que as expectativas atuais já estão no preço.

Funciona assim: se a bolsa cai, os investidores ficam pessimistas em relação ao futuro; se a bolsa sobe, ficam otimistas.

Você deve ter cuidado para não acabar comprando topo e vendendo fundo.

Por isso, é importante você manter uma boa alocação, uma boa carteira diversificada, e não se “emocionar” com o curto prazo e com as publicações ultra otimistas (ou ultra pessimistas).

O Brasil é um país “do meio”… Nem 8, nem 80.

No curto prazo, sim, há um otimismo maior…

Conforme já comentamos anteriormente, os indicadores macroeconômicos (inflação e juros) estão alinhados (ou quase) para que se inicie um novo ciclo de expansão monetária.

Juros menores, preços (dos ativos) maiores…

Veja, por exemplo, que o IPCA já está bem abaixo do que estava 2 anos atrás; que o IGP-M está no terreno negativo; e que o PIB deverá vir positivo, apesar de mais baixo do que nos 2 anos anteriores.

gráficos com principais indicadores

O que nos preocupa é o longo prazo; é o crescimento do Brasil de forma sustentável.

O grande ponto é que o nosso PIB Potencial (que seria a capacidade instalada de produção) está estagnado há mais de 10 anos.

gráfico com PIB efetivo e potencial

Como ele aumenta? Crescimento populacional e aumento de produtividade.

O crescimento populacional no Brasil vem diminuindo, ano a ano, e hoje não passa de 1% ao ano.

Quanto à produtividade, observe o gráfico à direita: de 1982 para cá, os ganhos foram de apenas 5%!

E a preocupação vem do fato de que as políticas implementadas pelo novo governo tendem a não gerar ganhos de produtividade.

Aumentos de impostos, maiores gastos, subsídios a alguns setores, expansão do crédito…

Todas essas medidas podem trazer um aumento do PIB efetivo (que é o PIB atual, de curto prazo, medido pela equação PIB = consumo + gastos do governo + investimentos + exportações – importações), mas não garantem o crescimento do PIB Potencial.

Este último pode ser incrementado com o aumento da poupança líquida da população (através da redução dos gastos do governo)…

Aumento dos investimentos (com o aumento da poupança privada)…

Redução da burocracia…

Aumento da segurança jurídica…

Do empreendedorismo, do comércio internacional, etc.

Aqui, um ponto de atenção: quando o PIB efetivo cresce além do PIB potencial, significa que a economia está superaquecida, e que mais tarde virá a inflação.

Para que não haja inflação, o PIB Potencial deve crescer o mesmo, ou mais, do que o efetivo.

Olhando tudo que está acontecendo e pensando em nossos investimentos, pode ser interessante você aproveitar os valuations descontados e “surfar” esse curto prazo mais positivo, essa nova “lua de mel” entre Governo e mercado.

Mas esteja atento, pois há sinais claros de que estamos vivendo, novamente, mais um voo de galinha, infelizmente.

Grande abraço e até a próxima coluna.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *